sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A night de Cuidados Paliativos

Quinta-feira à noite lá se formou no salão grande do CREU um círculo de curiosos. Habitues, algumas caras novas e convidados que trouxeram profundidade, experiência e sobretudo competência à EBUlição sobre Cuidados Paliativos.

A Carla e a Margarida abriram com a exposição de conceitos em diapositivos, e foram colocando as questões mais relevantes. (Dentro em breve teremos aqui o powerpoint - vão botando o olhinho).

Explicaram que, de facto, o objectivo dos cuidados paliativos não é ajudar a morrer, mas a viver o mais activamente quanto possível o processo de morte, à pessoa doente e à família. Inclui por isso o período de luto.

Procura deste modo minimizar o sofrimento físico, psicológico, social e espiritual através de um trabalho de equipa interdisciplinar, que requer competência e formação específicas.

Visa as pessoas com doença incurável, avançada e progressiva (o que exclui doentes em estado vegetativo permanente, ou pessoas com tetraplegia, por exemplo).

Constatando que há uma confusão actual de conceitos na opinião pública, o esclarecimento destes foi salientado. O que é uma morte digna? O que significa ortotanásia, eutanásia, encarniçamento terapêutico? E cuidados paliativos? (Recomenda-se a leitura de http://www.apcp.com.pt/uploads/conceitos_gerais_morte_digna_e_eutanasia.pdf)

Ilustradas por experiências pessoais e casos concretos, as inquietações foram-se então levantando...
Sobre a qualidade de vida - é avaliável? É subjectiva? No exemplo de Ramón Sampedro (retratado no filme Mar Adentro), este considerava que qualidade de vida era igual a sexualidade, e por isso pediu eutanásia. Será psicologicamente saudável qualquer conceito de qualidade de vida?
Sobre a autonomia do doente - uma vez perdida, quem decide por ele? A família? Os profissionais de saúde? Será que pode haver conflitos de interesse nestas circunstâncias? Qual a importância de um testamento vital, escrito pela pessoa enquanto saudável - será que teria a mesma opinião neste momento?

Se foi consensual que a suspensão de tratamentos desproporcionados é um dever ético, a manutenção da alimentação e hidratação artificiais em doentes terminais já suscitou uma reflexão ponderada a cada caso. Referiu-se o parecer da Comissão de ética sobre este caso, a ver em http://www.ceb.com.pt/

Levantou-se também o problema do controlo efectivo da dor através de analgésicos, e a sua importância para que a pessoa viva bem o seu processo de morrer. A Dr. Edna referiu que pode ser necessário recorrer, em casos de dor incontrolável, à sedação do doente (em que as doses analgésicas induzem o sono), mas são casos muito raros. Na realidade,a dor tem sempre resposta médica. Para além disso, não regista na sua já longa experiência em cuidados paliativos, um único pedido verdadeiro de eutanásia.

De fundo, ficou por responder a questão que surge obrigatoriamente, à pessoa doente e a todos nós: que sentido encontrar no processo de morrer? Que sentido para viver?

E por isso se sugeriu que o próximo encontro fosse subordinado ao tema: Bioética e Sentido da Vida!

Promete.

Antes de acabar, não podemos deixar de agradecer a presença viva do Dr. Jorge Biscaia, pai da Bioética em Portugal! E também dos profissionais dedicados a esta área, entre os quais da Dr. Edna, directora dos Cuidados paliativos do HSJ, da Carla, assistente social nesse mesmo serviço. E agradecemos também a presença e participação atenta de cada um, que esperamos que continue por este blog, com textos, sugestões e comentários!

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